ilustração de Oliver Jeffers

01/11/11

O meu tesouro

Senti o tempo a gelar no peito quando te perdi. Pensei nas últimas palavras que me disseste, que nunca mais me poderás abraçar, e nas saudades que viriam; e tudo isto me abraçou.

Veio uma vontade estúpida e inútil de adormecer para, quando acordasse, ver que era apenas um pesadelo. A verdade é que o tempo acabou e que todas estas tentativas de fazer com que isto não tivesse acontecido, e de aliviar o sentimento, seja ele qual for, são formas de negação, que fazem parte mas não valem a pena.


Serás sempre o meu tesouro, como dizias ser eu o teu. Devo-te um mundo de gargalhadas e de momentos especiais, bem gravados no coração.


Maria Saramago, 9.ºC

18/10/11

O meu tesouro

Do meu tesouro, não posso falar, não sinto que tenha algum, não posso escrever muito porque, desde que me lembro, só tenho contado comigo. A família só fala em estudos, esquecendo que para mim a vida não é só estudar; os amigos fingem estar ocupados e eu aguento-me e tenho orgulho disso. Sempre fiz as minhas escolhas sozinho porque ninguém me aconselha, ninguém apoia o que eu gosto de fazer, ninguém quer saber como estou.

Fotografia © Gercek Rengi

Temos de ser iguais, e temos deveres para com o outro. Um adulto que não tenha moral para falar de algo, não fala. Estou farto de fazer as mesmas coisas, mas nunca me arrependerei de nada que tenho feito, porque aprendo com os meus erros e não com os dos outros.

Bruno Gomes, 9.º C


*nota: actividade de escrita suscitada pela leitura do conto O Tesouro, de Eça de Queirós

20/07/11

mar

Fomos de Férias.
Voltaremos já no 9.º ano, com os olhos postos no mar e as mãos na nossa narrativa épica:
 Os Lusíadas.


(imagem captada a partir da Marina de Oeiras, da professora Teresa Oliveira)

07/06/11

a escolha

Aquela não era uma pergunta digna de me ser feita, tinha apenas nove anos. Para mim, nada daquilo fazia sentido, só queria voltar para casa e puxar os bigodes ao meu gato, enquanto via o meu programa preferido. Um senhor gordo, de bigode, fato e cabelo grisalho mantinha-se imóvel no meio da sala, a olhar para o meu pai, e quem o acompanhava, e para a minha mãe, e quem, igualmente, a acompanhava. A minha irmã ainda percebia menos que eu, com os seus inocentes sete anos.

De repente, o silêncio toma conta da sala onde permanecemos a olhar uns para os outros. É, então, que a pergunta surge: “Com quem irão ficar as menores?”. A minha irmã olha para mim. Eu olho para ela com os olhos embaciados, quase a chorar.

Fotografia ©Marius Grozea

Tinha de escolher: mãe ou pai. Não podia, sabia que não podia, é algo impossível de fazer. “O meu pai ou a minha mãe?’’. Para esta pergunta não tinha respostas, uma montanha pairava na minha inocente mente, ainda criança, mas nenhuma era referida em voz alta.

Decido falar. Digo algo baixinho. Na sala entra uma senhora alta e loira. Pega-me pela mão. Saímos com a minha irmã. Quando chegámos a casa fomos brincar com o gato, enquanto a minha mãe fazia as malas e arranjava as suas coisas, para se ir embora. Sair de casa.

Mafalda Rocha, 8.º A

05/06/11

para uma pessoa especial


Se eu pudesse voltar atrás, no tempo, na vida, era sem dúvida por ti que  regressava. Emendar todos os erros que cometi para contigo, mudar cada atitude ou palavra que injustamente te disse, mostrar-te que sou melhor pessoa do que aquela com quem pudeste conviver cerca de doze anos, mas acima de tudo não subestimar ou julgar a grande pessoa que foste.
Só agora me apercebi de que, no fundo, tu eras formidável, uma avó que muitos invejariam, mas eu não soube dar valor a isso.
Sinceramente, só te posso pedir desculpa, eu sei que é só uma palavra, mas também sei que é o primeiro sinal que demonstra o nosso arrependimento.
Tu já partiste, deixaste uma saudade imensa dentro de mim, um peso na consciência por não te ter dito o quanto te amava, amo e vou sempre amar… Esta palavra, tão banal e desgastada nos tempos que correm, não chega para ti, não chega para um coração tão grande e bondoso.
Agradeço tudo o que fizeste por mim, obrigada minha querida avó, aprendi que enquanto temos as coisas devemos respeitá-las e amá-las, pois num dia posso tê-las e no outro dia elas esvoaçam entre os dedos da minha pequena mão, molhada das lágrimas que escorrem do meu rosto, enquanto te deixo estas últimas palavras, de mim para ti:

Amo-te, descansa em paz.
  Mónica Loureiro, 8.º A



 (fotografia © Marie-Claude Strausz)

****

Admirava-te por todos os teus actos. Eras uma mulher corajosa, amiga e feliz. Orgulho era uma entre muitas palavras que te caracterizavam. Eras bondosa comigo e para com os outros. Escolhias-me como a pessoa mais especial. Saíste sem dizer adeus.

Bruno Tomé, 8.º C

03/04/11

horizontes

Vista para o mar

Eu, da minha janela, vejo o meu terraço novo com duas cadeiras e uma mesa. Numa das cadeiras, vejo um vestido e um chapéu. Na mesa, observo uma garrafa de vinho e vários tipos de citrinos. Dia perfeito para fazer um piquenique sozinho, apenas com a Natureza. Só de olhar, já me dá a fome da deliciosa laranja, a chamar por mim. Sento-me na cadeira.

Está um dia calmo, sem vento, sem som, apenas oiço o barulho leve das ondas fracas que vejo ao longe. Um mar azul limpo, junto a uma imensa pradaria verde, cheia de vida e de uma Natureza linda que a criou. De longe, a melhor vista do mundo.


Vasco Infante, 8.º B

A Vista

O horizonte, banhado pelo mar, de uma água límpida e com um belo tom de um azul natural. O mar, que banha a ravina à beira mar que talvez tenha alguns indícios de civilização e industrialização.
Toda esta bela vista, obtida a partir de um magnifico terraço que tem vestígios de riqueza; um chapéu talvez tenha vindo de Paris ou até Milão dentro de uma mala Louis Vitton, com duas espreguiçadeiras provavelmente de um tecido fino, uma mesa com desenhos florais, uma travessa com fruta vinda do Norte do país, mas também uma garrafa, talvez de um Moet Chandon, quem sabe.

Pode parecer que estou neste momento neste terraço, mas na verdade a caminho do comboio passei por uma imobiliária, e tive o prazer de contemplar um terraço onde provavelmente nunca terei o prazer de nele me repousar.

Miguel Baptista, 8.º B
 
(Maia, Vista para o Mar, 1996 - clicar na imagem para aumentar)

O terraço virado para o mar

O sol nasceu há algum tempo e eu encontro-me no terraço da minha casa.
Uma brisa fresca faz-se sentir vinda do lado do mar, esse mar de um azul profundo que transmite frescura para o dia que se avizinha.
As cadeiras esperam e convidam a uma manhã de leitura.
O sol aquece e queima fortemente. Olhando para a vegetação verde dos montes circundantes, apetece-me caminhar por esses trilhos fora. Mas não saio daqui. É neste terraço, donde vejo esta paisagem singular, que espero a chegada dos meus amigos para partilhar estas férias de Verão.
A campainha toca e às duas cadeiras do terraço outras se juntam, assim como almofadas e tapetes que recebem todos comodamente.
Mas é à noite que este terraço ganha mais vida. Sob um céu estrelado ouvem-se as conversas, risos e gargalhadas no meio de canções acompanhadas pelo sussurrar do mar.


Ana Catarina Antunes, 8.º B


* actividade no âmbito da Descrição de um espaço a partir de uma imagem

Crítica do Concerto “Beethoven - Sinfonia nº5”

O Concerto Beehoven – Sinfonia nº 5 realizou-se no Auditório Senhora da Boa Nova, em S. João do Estoril, no passado dia cinco do mês de Dezembro.

Neste Concerto, com duas partes distintas, coordenado e dirigido pelo Maestro Nicolay Lalov, participaram a Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras (OCCO) e o artista convidado Giampiero Sobriano.

A abertura do espectáculo esteve a cargo do mesmo Maestro. Entre outros aspectos, apresentou o programa para este último concerto do ano (antes do esperado Concerto de Natal em finais de Dezembro a encerrar este ano musical e do concerto em Janeiro a abrir o Ano Novo!), tendo destacado as razões das escolhas musicais para este concerto. Mencionou a elevadíssima força resultante da música de Beethoven, relacionada com a forte personalidade do autor, aspecto em torno do qual o Maestro decidiu incluir, neste espectáculo, músicas de Fr. Schubert e C. M. Von Weber.

(clicar na imagem para aumentar)


Sobre a OCCO, fundada em 2000, refira-se que esta tem mais de uma centena de actuações anuais, em Portugal e no estrangeiro, desde concertos sinfónicos, recitais de música de câmara, concertos didácticos e animações. A OCCO continua a ser dirigida pelo seu criador, o Maestro Nikolay Lalov. Para além desta, o maestro criou igualmente várias outras orquestras e conjuntos na Bulgária e em Portugal, país que escolheu para viver a partir dos finais dos anos oitenta. Devido a estas actividades de intercâmbio cultural internacional, N. Lalov é considerado um verdadeiro “embaixador da música e da cultura”. Para além de Director Artístico e de Maestro Titular da OCCO, é de notar que (em parceria com a professora Stela Lalova, sua esposa) é autor de Um sonho Mágico, a primeira ópera infantil composta em Portugal.

Sobre o artista convidado, Giampiero Sobriano clarinete, italiano graduado com honras pelo Conservatório de Alessandria, é bom acrescentar que tem participado em competições internacionais de clarinete, nomeadamente em Itália e França e tem sido solista em várias orquestras como a Orquestra sinfónica da RAI, Orquestra Lilarmónica de Turim, Orquestra da Fondazione Arena di Verona, entre outras.

A primeira parte do concerto foi constituída por uma Abertura em Estilo Italiano D590 em Ré de Fr. Schubert e com o Concerto para Clarinete Nº2 em Mi bemol Maior Op.74, onde o artista convidado, Giampiero Sobrino, presenteou, com uma actuação brilhante, a enorme plateia ali presente naquela acolhedora sala, que fazia esquecer que lá fora estava um fim de tarde imensamente chuvoso. Com a devida justiça, foram muitos os aplausos, tanto para a Orquestra, como para o convidado e para o Maestro. Mas o melhor (diríamos nós!) ainda estava para vir após o intervalo.

Na segunda parte, foi brilhantemente interpretada a Sinfonia Nº5 em Dó menor Op.67 de L. V. Beethoven, “a tal música que vem nos telemóveis”, dizia a meu lado uma criancita durante o intervalo. De facto, por estas e outras razões, uma música para todos, realidade que justifica a sábia escolha desta música para este espectáculo por parte do Maestro. Pelo modo como se envolveu na direcção da orquestra, depreendia-se que o Maestro aprecia a força desta música, razão pela qual o mesmo “irradiava e transpirava música” a que ninguém passou indiferente.

Estes momentos inspiram-se e dão-me força para o meu dia-a-dia de adolescente.

No final, os aplausos foram enormes e imensamente merecidos. Brilhante e majestoso são os dois adjectivos me ocorrem referir para classificar este concerto.

Felizmente, em Portugal, é possível assistir a muito talento na música, como comprova este magnífico concerto.

Sempre que posso, assisto a um bom concerto. Aprecio muito estes espectáculos enquanto espectador e enquanto guitarrista.

Como aspectos negativos, há no entanto a comentar que a imprensa não esteve presente (pelo menos não me apercebi!), facto muito lamentável, que espelha o estado da cultura e da arte na nossa região e do nosso país em geral.

Francisco Baptista, 8.º B

* trabalho realizado no âmbito da actividade "Uma crítica - jornalismo cultural", do conteúdo curricular Os Media


26/01/11

Variação sobre “A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho”

A deusa Clio deixou descair a cabeça loura e adormeceu por instantes. Logo se enlearam dois fios e no desenho se empolou um nó. Amalgamaram-se então as datas de 11 de Dezembro de 2010 e de 11 de Dezembro de 1932...

Era dia 10 de Dezembro de 201 à noite, faltava uma noite para a Clara fazer 20 anos e o que ela mais havia desejado nunca se chegara a concretizar: conhecer a sua bisavó falecida há 5 anos atrás... pois viviam em diferentes continentes e nunca tinham tido oportunidade de se conhecerem embora falassem algumas vezes por telefone...
Clara fechou os olhos e adormeceu… de repente estava na Bolívia no ano de 1932 e espantou-se ao ver pessoas com uns trajes que já tinha visto em fotografias que sua mãe lhe mostrara.



Na sua direcção caminhava uma bela jovem de cabelos louro e olhos azuis, mas de um azul que nunca havia visto, surpreendeu-se ao ver as semelhanças que a jovem e ela própria tinham...e pensou para si:

- Este alto no nariz, esta falha nas sobrancelhas e estes olhos azuis não me são estranhos, esta jovem parece-se bastante comigo mas como é que é possível?

Ganhou coragem, aproximou-se da jovem e pediu-lhe informações sobre algum local para almoçar, pois estava com alguma fome e… não lhe tinha ocorrido mais nada para perguntar.

Ao ver o ar de “turista” que a Clara tinha, a jovem perguntou-lhe:

-A senhora não é daqui pois não? Nunca a vi por cá, mas se quiser podemos ir até minha casa e eu dou-lhe algumas dicas sobre esta bela cidade de La Paz.
-Tem razão, eu não sou daqui e nem sei como vim cá parar e, sim, era muito bondoso da sua parte fazer isso por mim, mas tem a certeza? Eu não quero de modo algum atrapalhar.
- Não se fala mais no assunto, vamos para minha casa e depois a senhora decide o que fazer, ah! e já agora, o meu nome é Betsy, Betsy Bihsop e o seu?
- Bishop...? O meu nome é Clara Bishop...que coincidência!

Só nessa altura é que a Clara percebeu o que sucedera, o seu desejo tinha-se tornado realidade! Mas o único problema era explicar à sua bisavó (que agora tinha a mesma idade que ela), o sucedido... que confusão!!! Mas ela iria ter de arranjar alguma solução.

- Posso tratá-la por tu, Clara?
- Sim, claro! Betsy....tenho de te explicar uma coisa um pouco confusa.
- Explica, tenho a certeza que vou compreender.
- Então é assim... eu moro em Portugal e tenho 20 anos, quer dizer 19, mas amanhã faço 20, e o meu desejo sempre foi conhecer a minha bisavó... que és tu!... Eu sei que isto é estranho, mas é esta a verdade.
- Como assim? Não estou a entender, eu só tenho 20 anos, como é que é possivel eu ser bisavó? Nem tenho filhos!
- Betsy em que ano estamos...?
- Em 1932.
- Pois, tal como eu calculei, eu recuei no tempo, para mim estamos em 2010.
- 2010?! Tens a certeza do que estás a dizer? Eu tenho uma BISNETA?
- Sim, bisneta essa que sou eu!
- Isto é mesmo muito confuso, mas ao mesmo tempo sinto-me contente.
- A sério? Não estás chateada nem nada do género??
- Não, claro que não! Mas o teu desejo foi feito ao 19 anos...quer dizer que se se concretizou ao 19, aos 20 já não vai ser “ válido”.
- Não tinha pensado nisso...mas tens toda a razão. No meu relógio são onze e meia, o que significa que temos que aproveitar a meia – hora que nos resta.
Certo...então olha, vamos para o meu sítio preferido, vamos para o pico mais alto dos Andes...o Aconcágua.
- A sério?? Mas como? Não se pode ir de carro ,é demasiado díficil
- Mas quem é que falou em carro? Eu tenho um curso de pilotagem de helicópteros, podemos sobrevoar os Andes. O que é que te parece?
- É uma excelente ideia!

Abraçaram-se uma à outra e, de repente, a Clara estava novamente deitada na sua cama, acordada e, sem saber bem porquê, mas pela primeira vez em muito tempo, não sentia aquele “vazio” no coração por não ter conhecido a sua bisavó Betsy.

Nem a Clara nem a Betsy se lembravam do sucedido pois tinham sido borrifadas com água do Rio Letes, mas ambas se sentiam muito felizes!
A Clara e a Betsy voltaram à sua vida normal, pois a deusa Clio acordou do seu próprio sonho e atentou no erro que cometera. Desfez a troca de fios e reconduziu a Clara ao seu tempo.


Clara Bishop, 8.º D