ilustração de Oliver Jeffers

07/06/11

a escolha

Aquela não era uma pergunta digna de me ser feita, tinha apenas nove anos. Para mim, nada daquilo fazia sentido, só queria voltar para casa e puxar os bigodes ao meu gato, enquanto via o meu programa preferido. Um senhor gordo, de bigode, fato e cabelo grisalho mantinha-se imóvel no meio da sala, a olhar para o meu pai, e quem o acompanhava, e para a minha mãe, e quem, igualmente, a acompanhava. A minha irmã ainda percebia menos que eu, com os seus inocentes sete anos.

De repente, o silêncio toma conta da sala onde permanecemos a olhar uns para os outros. É, então, que a pergunta surge: “Com quem irão ficar as menores?”. A minha irmã olha para mim. Eu olho para ela com os olhos embaciados, quase a chorar.

Fotografia ©Marius Grozea

Tinha de escolher: mãe ou pai. Não podia, sabia que não podia, é algo impossível de fazer. “O meu pai ou a minha mãe?’’. Para esta pergunta não tinha respostas, uma montanha pairava na minha inocente mente, ainda criança, mas nenhuma era referida em voz alta.

Decido falar. Digo algo baixinho. Na sala entra uma senhora alta e loira. Pega-me pela mão. Saímos com a minha irmã. Quando chegámos a casa fomos brincar com o gato, enquanto a minha mãe fazia as malas e arranjava as suas coisas, para se ir embora. Sair de casa.

Mafalda Rocha, 8.º A

05/06/11

para uma pessoa especial


Se eu pudesse voltar atrás, no tempo, na vida, era sem dúvida por ti que  regressava. Emendar todos os erros que cometi para contigo, mudar cada atitude ou palavra que injustamente te disse, mostrar-te que sou melhor pessoa do que aquela com quem pudeste conviver cerca de doze anos, mas acima de tudo não subestimar ou julgar a grande pessoa que foste.
Só agora me apercebi de que, no fundo, tu eras formidável, uma avó que muitos invejariam, mas eu não soube dar valor a isso.
Sinceramente, só te posso pedir desculpa, eu sei que é só uma palavra, mas também sei que é o primeiro sinal que demonstra o nosso arrependimento.
Tu já partiste, deixaste uma saudade imensa dentro de mim, um peso na consciência por não te ter dito o quanto te amava, amo e vou sempre amar… Esta palavra, tão banal e desgastada nos tempos que correm, não chega para ti, não chega para um coração tão grande e bondoso.
Agradeço tudo o que fizeste por mim, obrigada minha querida avó, aprendi que enquanto temos as coisas devemos respeitá-las e amá-las, pois num dia posso tê-las e no outro dia elas esvoaçam entre os dedos da minha pequena mão, molhada das lágrimas que escorrem do meu rosto, enquanto te deixo estas últimas palavras, de mim para ti:

Amo-te, descansa em paz.
  Mónica Loureiro, 8.º A



 (fotografia © Marie-Claude Strausz)

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Admirava-te por todos os teus actos. Eras uma mulher corajosa, amiga e feliz. Orgulho era uma entre muitas palavras que te caracterizavam. Eras bondosa comigo e para com os outros. Escolhias-me como a pessoa mais especial. Saíste sem dizer adeus.

Bruno Tomé, 8.º C