ilustração de Oliver Jeffers

08/12/09

A linha azul bebé

Era uma vez um Rato, um rato com letra maiúscula, porque este era o Rei dos ratos. Mas estes ratos, por mais gordos ou altos que fossem, eram com letra minúscula, porque eram apenas os criados, nada mais do que isso para o Rei dos ratos. Na verdade, estes ratos com letra minúscula nem sequer tinham vida própria. Tudo o que o rei pedia, eles tinham de fazer ou então…ZÁS! Eram enforcados!

Eu sei, era um rei terrível mas tinha defeitos mais “suaves”, embora aborrecidos, sim muito aborrecidos. A sua roupa não podia ser vista em mais sítio nenhum, ou seja, tinha de ser única no Mundo, por isso tinha o seu próprio alfaiate. Porém, com o feitio do Rei dos ratos, o alfaiate foi-se embora. O Rei dos ratos ficou furioso e disse a todos os ratos:
- TÊM DOIS DIAS PARA ME TRAZEREM UM ALFAIATE SÓ PARA MIM, SE NÃO…hum SE NÃO…hum… PONHO-VOS TODOS NA PRISÃO! É ISSO MESMO! TO-DOS-NA- PRI-SÃO! MEXAM-SE!
Todos os ratos começaram a correr de um lado para o outro, sem saber o que fazer. Parecia a hora de ponta no metro.



Mas, no meio de todos eles havia um ratinho muito pequenino que sabia exactamente o que fazer. À frente do Palácio do Rei dos ratos havia uma loja de linhas e como Chico (o ratinho) era pequenino, conseguia facilmente passar por debaixo daquelas portas velhas, que há nas casas antigas onde parece que a madeira não chega para acabar a porta, por isso ficam sem uns centímetros em baixo.
Quando chegou à loja, Chico foi ter com a sua amiga Linha Azul Bebé e desabafou com ela:
- Olá! - disse Chico, mal entrou na loja.
- Olá! – Respondeu Azul – Então o que fez desta vez aquele feioso Rei dos ratos? – fazendo uma careta ao pensar no Rei.
- Bem, lembras-te do Gaspar, o alfaiate simpático de que eu te falei? Foi-se embora…
- Também não admira, com o feitiozinho que o Rei tem, eu fazia o mesmo. A não ser que me tratasse bem, o que é muito difícil!
- Pois, mas agora deu-nos dois dias para encontrarmos alguém que possa substituir o Gaspar.
- Mas isso é fácil... a D. Rosa!
- Quem? A dona desta loja? Nem pensar, não tinha paciência.
- Tinha, tinha. E dava-lhe umas belas respostas – afirmou Azul confiante.

Depois disto, o Chico foi falar com a D. Rosa e, por incrível que pareça, ela aceitou. Desde esse dia fez montanhas de fatos únicos e o Rei pagou-lhe muito bem e até estava mais amável!
Parecia apaixonado!
Um dia acabaram-se os fatos e o Rei pediu a dois ratos que fossem à loja contar o grande drama. Estes foram, rindo-se pelo caminho até encontrarem a D. Rosa, que se riu ainda mais do que eles.
Quando chegou ao Palácio, a D. Rosa deparou-se com um problema! Não tinha linha azul…aquele azul da Linha Azul Bebé, a amiga do Chico, lembram-se? O Chico lembrou-se:
- A Linha Azul Bebé! – disse em voz alta. – É perfeita.
- Tens razão - concordou a D. Rosa. – Vou lá buscá-la.
Foi buscar a Azul e voltou num ápice. Mas, quem ficou muito contente foi o Rei dos Ratos e, pela primeira vez, os Ratos foram chamados com letra maiúscula.
Graças à Azul, a Linha Azul Bebé, passou a viver-se em paz naquele reino.

Maria Saramago, 7.º C

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